O Festival internacional de criatividade de Cannes foi muito bom para o Brasil. Sei que nem todos publicitários acompanharam o festival, mas o Brasil voltou da França com 99 leões na bagagem, sendo 14 de ouro, 33 de prata e 52 de bronze. Foi a quarta melhor participação brasileira da história, superado apenas pelos anos 2015, 2014 e 2013. Mais uma vez a agência brasileira mais premiada foi a Almap BBDO que ficou com a segunda colocação na disputa do titulo de agência do ano.

Até aqui nada demais e nem muito diferente dos anos anteriores. Só que Cannes 2017 foi diferente. E essa diferença impacta a vida dos consumidores.

Recentemente a FENAPRO – Federação Nacional das Agências de Propaganda apresentou em Vitória as principais tendências do festival deste ano. O publicitário Alexis Pagliarini relatou quais seriam essas tendências. Segundo ele, houve um crescimento das ferramentas online e do conceito “matemarketing”, ou seja, o uso crescente de dados, além da proliferação da tecnologia nas categorias do festival.

 
Em compensação, o festival atrai cada vez mais um público bem diferente daquele das suas origens. No início, era um festival para criativos. Hoje é crescente o número de clientes, atraídos pelo rico conteúdo apresentado por mais de 500 palestrantes. Neste ano, o número cresceu 70%, comparado ao ano passado.

Outro fator de destaque é a relevante estratégia de “contar bem as histórias”, já que as campanhas mais premiadas não tinham a publicidade tradicional como elemento principal ou mesmo nenhuma peça tradicional. Inclusive os dois Gran Prix da empresa de telefonia Móvel Boost foram do publicitário capixaba Eduardo Marques, da agência 180LA, de Los Angeles.

Ainda segundo Alexis, o Cannes Lions já vinha sentindo a perda de participantes brasileiros para o SXSW, que apresenta um formato com menos propaganda e mais inovação, tecnologia e entretenimento. O dilema do festival é: ao se bandear fortemente para o lado da inovação e tecnologia, ficará muito parecido com o SXSW, que tem atraído mais gente do que o Cannes Lions. Se ele permanecer muito arraigado aos formatos tradicionais, poderá perder a sua relevância.

De qualquer maneira, o festival continua grandioso e poderoso. Foram mais de 41.000 trabalhos inscritos neste ano. São mais de 10.000 delegados (participantes), vindos de mais de 90 países. Enfim, Cannes continua como a maior vitrine de criatividade mundial e os avanços da tecnologia sobre ele, são os mesmos que refletem sobre nossos comportamentos.

Fernando Manhães,


É o Diretor do Grupo Prix e professor do curso de Comunicação Social da UFES