Na semana passada o Espírito Santo perdeu um dos capixabas mais intrigantes: Edgard Euzébio dos Anjos. Que de Anjo não tinha nada. Houve muitos comentários sobre sua contribuição à imprensa capixaba, mas queria abordar aqui sua contribuição à publicidade capixaba quando fundou a Quarupe Propaganda, onde tive a honra de trabalhar no início de minha carreira profissional na década de 80, foram apenas três meses que me valeram por uma faculdade.

Ainda estudante de comunicação na UFES, fui abordado pela minha colega de turma e filha dele a Fabíola, ela me perguntou se tinha interesse numa vaga de produtor gráfico na agência que o pai dela tinha montado no centro de Vitória. Era numa casa ao lado do Palácio Anchieta que depois se mudou para a Gama Rosa, no edifício Alves Ribeiro. Lá fui entrevistado pelo também falecido Antonio Barros, diretor da agência e fui contratado. Aí começou minha convivência com Edgard.

Nessa época o segmento das agências de publicidade era totalmente dominado pela Eldorado Publicidade. E ouso dizer que a publicidade capixaba é dividida antes e depois da Quarupe, pois ela quebrou essa hegemonia. Rompeu com o controle das contas públicas pela Eldorado, conquistando a conta do Banestes e outras no governo do Gerson Camata. Também foram conquistadas contas privadas que mantinham suas verbas com agências do Rio, como o Grupo Tristão. Lembro até hoje do jingle do Café Cafuso.

Mas voltando ao Edgard, aprendi com ele o que era lobby. Antes não tinha a menor ideia do que se tratava. Ele era influente e discreto. Bem humorado. Contador de histórias. Era envolvente. Talvez sua maior excentricidade fora construir uma mansão em Carapina e o seu Alfa Romeo verde, numa época em que de carro importado a gente só ouvia falar.

Apesar de não entender de publicidade, o Edgard soube montar um time capaz de responder às demandas dos clientes. Ele dizia assim “aqui você tem três tipos de clientes: o anunciante que investe em publicidade por convicção, que é a minoria, os clientes que gastam em publicidade por que outros também o fazem e o freguês, que é a maioria, faz propaganda de vez em quando pra ficar livre da gente“. Pedi contas para o Erildo dos Anjos, que era o diretor de criação da agência e posteriormente montei a minha agência, a Direta Propaganda e mais tarde a Prisma Propaganda.

Num dia, o Edgard passando pela Chafic Murad, rua da sede da Prisma, viu que o gramado estava alto. Pois bem, ele entrou e disse para a recepcionista “fala para o dono cortar a grama, pois não foi assim que ele aprendeu”. Ela não precisou nem dizer quem havia feito este comentário. Entendi que só podia ser o Edgard.

Em 2005 montei um escritório da Prisma no Rio de Janeiro e Edgard estava morando lá, tinha um escritório na Av. Rio Branco e então tive a oportunidade de conviver com ele de uma forma diferente, eu estava mais maduro e experiente e já sabendo o que era lobby e procurei os serviços do Edgard lobista. Edgard era assim: muitos amigos e alguns desafetos, mas acima de tudo soube aproveitar sua passagem por essa vida.

Fernando Manhães – É publicitário e professor do curso de Comunicação Social da UFES