Toda essa situação de caos na segurança pública do Estado me fez relembrar de quando era criança, quando nós, meninos, brincávamos de polícia e ladrão.Nãosei por que, mas minha escolha era sempre a mesma: ladrão. Só depois de muito tempo, fui reconhecer o porquê desta opção. No imaginário de uma criança de sete anos, apesar da imagem positiva do policial, ele tinha muito a perder, e o ladrão, praticamente nada. Já no lado da polícia, a expectativa de ser surpreendido pelo ladrão e, ao mesmo tempo, o dever de perseguí-lo e capturá-lo era, por demais, angustiante.

Passadas duas semanas do início da falta de policiais militares nas ruas do Espírito Santo, além de demonstrar de forma clara e irretocável a importância da Polícia Militar para a manutenção da ordem e do funcionamento da sociedade, ficou evidente também o desgaste da imagem do nosso Estado para os capixabas, os brasileiros e, até mesmo, para o mundo. O Espírito Santo é santo só no nome. Aqui se mata faz tempo. Lideramos o ranking de mortes por homicídio por muitos anos e, é bem verdade, os esforços dos últimos governos e das polícias constituídas (civil e militar) vêmcontribuindo para melhorar nossos números.

As autoridades alegam que a imagem da Polícia Militar foi pra lama. Eu discordo. Para a lama foi a imagemdo Espírito Santo. Ocupamos a mídia nacional da forma mais negativa possível – já que somos pouco conhecidos pelas nossas virtudes -, com clima de insegurança total, barbárie e falta de garantias de liberdade individual.

O governo estadual tem sua parcela de culpa nisso tudo. Não se antecipou no trabalho de inteligência do movimento de greve. Demorou a montar uma equipe de governo para trabalhar a gestão de crise, subestimou a força do movimento e mandou muito mal em não utilizar a publicidade paga para informar, esclarecer à população o que estava ocorrendo e as medidas que o governo estava adotando.

Alguém viu algum comunicado oficial do governo do Estado informando a população? Alguém viu algum material informativo e didático sobre os cuidados com a segurança? Alguém viu algum material publicitário informando os capixabas sobre a gravidade da crise que o Estado estava atravessando? Ficou tudo por conta da mídia e dos interlocutores do governo.

A pergunta que fica é: como vamos resgatar a imagem da marca chamada Espírito Santo?

Fernando Manhães,


É o Diretor do Grupo Prix e professor do curso de Comunicação Social da UFES